
O acidente fatal em Ímola
Na terceira corrida da temporada, o GP de San Marino, em Ímola, Senna declarou que esta deveria ser a corrida de início da temporada para ele, pois não havia terminado as anteriores e agora faltavam apenas catorze corridas. Senna mais uma vez conquistou a pole, mas o fim de semana não seria tão fácil. Ele estava particularmente preocupado com dois eventos. Um deles, na sexta-feira, durante a sessão de qualificação da tarde, um novato protegido de Senna e também brasileiro, Rubens Barrichello, envolveu-se num grave acidente em que perdeu o controle de sua Jordan, passou por cima de uma zebra e voou da pista, chocando-se violentamente contra uma barreira de pneus.
Felizmente, Barrichello saiu desse acidente com pequenas escoriações e o nariz quebrado, ferimento suficiente para impedi-lo de correr no domingo. Senna visitou seu amigo no hospital - ele pulou o muro depois que foi impedido de visitá-lo pelos médicos - e ficou convencido de que as normas de segurança deveriam ser revisadas.
O segundo ocorreu no sábado, durante os treinos livres quando o austríaco Roland Ratzenberger, correndo pela Simtek, bateu violentamente na curva Villeneuve num acidente que começou a se formar na fatídica curva Tamburello, quando a asa dianteira de seu carro se soltou fazendo-o perder o controle do veículo. Levado ao Hospital Maggiore de Bolonha, ele faleceu minutos depois. Essa foi a primeira morte de um piloto na pista em dez anos - desde que a FIA adotara sérias medidas de segurança - e a primeira que Senna presenciou na Fórmula 1. Senna resolveu visitar o local do acidente para ver ele mesmo o que poderia ter acontecido e essa ousadia lhe custou mais uma advertência e algum desgaste na sua atribulada relação com a FIA.
Senna passou o final da manhã reunido com outros pilotos, determinado a recriar a antiga Comissão de Segurança dos Pilotos, a fim de melhorar a segurança na F1. Como um dos pilotos mais velhos, ele se ofereceu para liderar esses esforços.
Apesar de tudo, Senna e todos os outros pilotos concordaram em correr. Ele saiu em primeiro, mas J.J. Lehto deixou morrer sua Benetton, fazendo os outros pilotos desviarem dele. Porém Pedro Lamy, da Lotus-Mugen, bateu na parte traseira de Lehto, o que levou o safety car à pista por cinco voltas.
Na sétima volta a corrida foi reiniciada, e Senna rapidamente fez a terceira melhor volta da corrida, seguido por Schumacher. Senna iniciara o que seria a sua última volta; ele entrou na curva Tamburello e perdeu o controle do carro, seguindo reto e chocando-se violentamente contra o muro de concreto. A telemetria mostrou que Senna, ao notar o descontrole do carro, ainda conseguiu, nessa fração de segundo, reduzir a velocidade de cerca de 300 km/h (195 mph) para cerca de 200 km/h (135 mph).[10] Os oficiais de pista chegaram à cena do acidente e, ao perceber a gravidade, só puderam esperar a equipe médica. Por um momento a cabeça de Senna se mexeu levemente, e o mundo, que assistia pela TV, imaginou que ele estivesse bem, mas esse movimento havia sido causado por um profundo dano cerebral. Senna foi removido de seu carro pelo Professor Sidney Watkins, neurocirurgião de renome mundial pertencente aos quadros da Comissão Médica e de Segurança da Fórmula 1 e chefe da equipe médica da corrida, e recebeu os primeiros socorros ainda na pista, ao lado de seu carro destruído, antes de ser levado de helicóptero para o Hospital Maggiore de Bolonha onde, poucas horas depois, foi declarado morto.
Mais tarde o Professor Watkins declarou:
| “ | Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras e estava claro, por suas pupilas, que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico, eu senti sua alma partir nesse momento. | ” |
Foi encontrado no carro de Ayrton Senna uma bandeira austríaca que, em caso de uma possível vitória, Ayrton Senna a empunharia em homenagem ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um dia antes.[11]
Foi um GP trágico. Além do acidente de Barrichello e das mortes de Senna e Ratzenberger, o acidente entre J.J. Lehto e Pedro Lamy fez arremessar dois pneus para a arquibancada, ferindo vários torcedores. O italiano Michele Alboreto, da Minardi, perdeu um pneu na entrada dos boxes e se chocou contra os mecânicos da Ferrari, ferindo também um mecânico da Lotus.
Não bastando isso, durante alguns minutos as comunicações no circuito entraram em colapso permitindo que o piloto Erik Comas, da equipe Larousse, deixasse o pit-stop e retornasse à corrida quando ela já havia sido interrompida. Comas somente entendeu o que estava acontecendo quando os fiscais de pista mais próximos ao acidente tremularam nervosamente suas bandeiras vermelhas indicando-lhe a situação. Se não fosse essa atitude, ele poderia ter batido no helicóptero que estava no meio da pista aguardando para levar Senna ao hospital.
A imagem de Ayrton apoiado na sua Williams, flagrado pelas tevês, com o olhar distante e perdido, pouco antes do início do GP, ficaria marcada para sempre entre seus fãs.
[editar] As Investigações sobre os acidentes
De acordo com a perícia, Senna perdeu o controle do carro devido à quebra da coluna de direção [12] do seu Williams. O documento sugere que houve negligência dos técnicos da equipe numa reparação feita na coluna de direção. Em novembro de 1996, a denúncia do promotor Maurizio Passarini foi acolhida pelo juiz Diego Di Marco. Frank Williams, Patrick Head, Adrian Newey, Federico Bondinelli (um dos responsáveis pela empresa que administrava o autódromo de Ímola), Giorgio Poggi (o responsável pela pista), Roland Bruinseraed (o director da prova), e o mecânico que soldou a coluna de direção do Williams foram indiciados por homicídio culposo, por negligência e imprudência. Porém, em dezembro de 1997, o juiz Antonio Constanzo absolveu os acusados.
Em 2004, um documentário de televisão da National Geographic chamado "A morte de Ayrton Senna" foi transmitido para o mundo inteiro. O programa considerou os dados disponíveis do carro do Senna para reconstituir a seqüência de eventos que o conduziu ao acidente fatal. O programa concluiu que longo período que o safety-car permaneceu na pista fez reduzir as pressões nos pneus de Senna, abaixando o carro. Com o carro mais baixo, o chassi tocou o solo fazendo o carro saltar tornando a direção incontrolável. Senna teria reagido mas, com os pneus travados, ele foi arremessado para fora da curva. O programa concluiu que se as reações do piloto tivessem sido mais lentas, ele talvez poderia ter sobrevivido. Pilotos e especialistas em Formula 1 excluem parte dessa teoria como improvável, pois os pneus de Formula 1 se aquecem até a temperatura ideal depois de percorrer apenas 2 km, meia volta no circuito de San Marino, assim na volta 7 os pneus do carro de Senna já estariam aquecidos.
[editar] As discussões
Senna tinha 34 anos quando morreu. Sua morte aconteceu primariamente por um impacto inesperado da roda com o muro que fez o pneu estourar e a uma velocidade incrível o pneu estourado com a roda voou a cerca de 208 km/h atingindo o capacete verde e amarelo na fronte, acima do olho direito. O impacto foi tão forte que a roda voou quase 60 metros e o carro de Senna ainda voltou para a pista. Feitos os calculos da quantidade de movimento de uma roda de 17 kg e a força proveniente do impacto, concluiu-se que ela seria insuportável e o resultado esperado seria que o cérebro tivesse danos extensos e parte dele vindo praticamente se "liquefazer", mas o capacete de Senna suportou boa parte do impacto. O capacete de Senna mostrou uma quebra com grande afundamento acima da viseira, o que assustou todos com a violência do impacto, obviamente insuportável para qualquer ser vivo. Na análise dos médicos na pista, no hospital e na autópsia depois de constatada a morte cerebral, foram percebidos três graves traumas, um grande choque que provocou fraturas na têmpora e rompendo a artéria temporal, uma fratura na base do crânio devido a potência do impacto, e além do mais um pedaço de fibra de carbono da carenagem penetrou o visor do capacete e adentrou a órbita acima do olho direito, danificando irreversívelmente o lobo frontal. Qualquer um dos três ferimentos seria suficiente para lhe tirar a vida.
Tanto a FIA como as autoridades italianas mantém a versão de que Senna não morreu instantaneamente, e sim no hospital, para onde ele foi levado rapidamente de helicóptero. Existe uma interminável discussão entre as autoridades a esse respeito.
Ainda se discute porque Senna não foi declarado morto na pista. Especula-se que isso se deve à lei italiana que diz que quando uma pessoa morre em um evento desportivo, essa morte deve ser investigada, fazendo com que o evento seja cancelado. O diretor do instituto legal de medicina do Porto (Portugal), o professor José Eduardo Pinto da Costa, informa o seguinte:
| “ | Do ponto de vista ético, o tratamento dado a Senna foi errado. Isso se chama distanásia, que significa que uma pessoa estêve mantida viva impropriamente depois que a morte biológica devido aos ferimentos de cérebro tão sérios que o paciente nunca poderia permanecer vivo sem meios mecânicos da sustentação. Não haveria nenhuma perspectiva de vida normal. Mesmo se ele tivesse sido removido do carro quando seu coração ainda estava batendo é irrelevante à determinação de quando morreu. A autópsia mostrou que Senna sofreu fraturas múltiplas na base do crânio, esmagando a testa e rompendo a artéria temporal com hemorragia nas vias respiratórias. É possível reanimar uma pessoa depois que o coração pára de bater com os procedimentos cardiorespiratórios. No caso de Ayrton, há um ponto sutil: as medidas da ressuscitação foram executadas. Ainda sob o ponto de vista ético isto pode bem ser condenado porque as medidas não foram em benefício do paciente mas um pouco porque serviriram ao interesse comercial da organização. A ressuscitação ocorreu de facto, com a traqueostomia e quando a atividade do coração foi restaurada com o auxílio dos procedimentos cardiorespiratórios. A atitude na pergunta era certamente controversa. Qualquer médico saberia que não havia nenhuma possibilidade de sucesso em restaurar a vida na circunstância em que o Senna tinha sido encontrado. | ” |
O professor Jose Pratas Vital, diretor do hospital de Egas Moniz em Lisboa, um neurocirurgião e chefe da equipe médica no GP português, oferece uma opinião diferente:
| “ | As pessoas que conduziram a autópsia indicam que, na evidência de seus ferimentos, o Senna estava morto. Mas eles não poderiam dizer isso. Ele realmente teve os ferimentos que o conduziram à morte, mas nesse ponto o coração pode ainda ter funcionado. Os médicos que atendem a uma pessoa ferida, e que percebem que o coração ainda está batendo, tem apenas duas atitudes a tomar: Uma é assegurar-se de que as vias respiratórias do paciente permaneçam livres, o que significa que ele pode respirar. No caso de Senna, eles realizaram uma traqueotomia, liberando as vias respiratórias. Com oxigênio e a batida do coração, passamos à segunda atitude: a perda de sangue. Estas são as etapas a ser seguidas em todo caso envolvendo ferimento sério, se na rua ou em uma pista. A equipe de salvamento não pode pensar de nada mais nesse momento exceto imobilizar a coluna cervical do paciente. Então a pessoa ferida deve ser levada imediatamente à unidade de cuidados intensivos do hospital o mais próximo. | ” |
Rogério Morais Martins:
| “ | De acordo com o primeiro boletim clínico emitido pela Dra. Maria Teresa Fiandri às 16:30 o paciente Ayrton Senna teve dano de cérebro com choque hemorrágico e encontra-se em coma profundo. Entretanto, a equipe de médica não notou nenhuma ferida na caixa torácica ou no abdômen. A hemorragia foi causada pela ruptura da artéria temporal. O neurocirurgião que examinou o Senna no hospital mencionou que as circunstâncias não exigiam uma cirurgia porque a ferida foi generalizada no crânio. Às 18:05, a Dra. Fiandri leu um outro comunicado, com a voz agitada, anunciando que Senna estava morto. Nesse momento ele ainda estava ligado aos equipamentos que manteve sua pulsação do coração. A liberação pelas autoridades italianas dos resultados da autópsia de Senna que revelaram que o piloto tinha morrido instantaneamente durante a corrida em Imola, inflamou ainda mais controvérsia. Agora havia perguntas a serem respondidads pelo diretor da corrida e pelas autoridades médicas. Embora os porta-vozes do hospital indiquem que Senna ainda estava respirando na chegada a Bolonha, a autópsia em Roland Ratzenberger [que morreu um dia antes] indicou que a morte tinha sido instantânea. Sob a lei italiana, uma morte dentro do circuito exigiria o cancelamento da corrida e toda a área deveria ser mantida intacta para a investigação. | ” |
Dessa forma, eles teriam evitado a morte de Ayrton.
Os médicos não são capazes de afirmar se Senna morreu instantaneamente. Não obstante, estavam bem cientes que suas possibilidades de sobrevivência eram mínimas. Se vivesse, o dano no cérebro deixá-lo-ia severamente deficiente. Os acidentes como este são quase sempre fatais. Além disso, existem os efeitos no cérebro da desaceleração brusca, que causa dano estrutural aos tecidos cerebrais.
Estima-se que as forças envolvidas no acidente de Ayrton sugerem uma taxa de desaceleração equivalente a uma queda vertical de 300 metros. A autópsia revelou que o impacto a 208 km/h causou os ferimentos múltiplos na base do crânio, tendo por resultado a insuficiência respiratória. Havia um esmagamento do cérebro (que foi arremessado junto à parede do crânio que causa o edema, a hemorragia e o aumento de pressão intra-cranial) junto com a ruptura da artéria temporal que causou a hemorragia nas vias respiratórias e a consequente parada cardíaca.
Quanto à possibilidade de os pilotos estarem ainda vivos quando foram postos nos helicópteros que os levaram ao hospital os experts acredidam que os organizadores da corrida atrasaram o anúncio das mortes a fim evitar o cancelamento e assim proteger seus interesses financeiros.
A Sagis, organização que administra o circuito de Ímola, chegou a cancelar a prova mesmo com um prejuízo estimado em US$ 6.5 milhões. A FIA desmente essa informação.
Por conta desse e do acidente de Ratzenberger, a curva Tamburello e a curva Villeneuve foram transformadas em chicanes.
No ano 2000, Senna foi postumamente incluído no International Motorsports Hall of Fame.
Sem comentários:
Enviar um comentário